Pra quem tá cagado, o que é um peido.




Um belo dia eu o Nando e o Rodrigo, estávamos indo para Paranapiacaba com intenção de seguir ate Taquarussú, chegando perto da Solvay (indústria de cloro), vieram 2 rapazes com mountain bikes também. Nós estávamos pedalando e conversando e eles passaram rápido pela gente, um olhou para o outro e decidiu ir atrás dos carinhas. Comecei a forçar e a relação da minha bicicleta, já bem gasta começou a estalar e pular o Nando e o Rodrigo aceleraram e viram, que eu tinha ficado, e eu gritei Vai!! Vai!!! Depois eu acho vocês. Eles foram passaram os carinhas e chegando em Campo Grande, me esperaram. Chegando lá,  eles estavam com a adrenalina em alta e a auto estima também, continuamos a pedalar até Paranapiacaba. Chegamos no mirante de madeira, e um dos dois perguntou: ___Lú, você já desceu ai?
Eu respondi: ___Sim, mas deve estar mô ruim esse caminho, da ultima vez que desci só deu para ir um pedaço, por causa dos desbarrancamentos, e fora que é uma baita subida.
Ai o Nando lançou a Frase do dia: Ah!!! Pra quem tá cagado, o que é um peido.
Seguindo essa lógica, (Ilógica e irracional), inventamos de descer a bendita trilha do rio Mogi. ( Que sai de Paranapiacaba e Vai ate Cubatão)
Começamos a descer e depois de uns 15 minutos eu parei e falei, olha o morro que a gente vai ter que subir. E o Nando, Ah!!! Pra quem tá cagado, o que é um peido. Eu disse tá bom, e continuamos, mais uns 15 minutos, parei e falei: __Nós vamos, nos foder muito pra subir. E o Nando:____ Ah!!! Pra quem tá cagado, o que é um peido.
Continuamos e começou a melhorar um pouco o trajeto, e a velocidade aumentou bastante, começamos a pegar um rock Garden (Jardim de pedras), e o Nando tomou no capote, e ele que tava com uma calça de motocross, reforçada principalmente nos joelhos e que quase nunca reclamava de nada, estava se contorcendo de dor, na hora eu parei, joguei a bicicleta de lado e subi correndo, ate ele. Na hora que eu vi, a calça cortada e ele gritando pensei, que ele tinha quebrado o joelho. Eu e o Rodrigo puxamos a perna da calça, e Graças a Deus, era só uma luxação (mas uma Puta Luxação) e o joelho dele parecia de um elefante.
Ai eu falei: ____Consegue levantar? Ele respondeu:___ Consigo!
Ai, eu e o Rodrigo falamos: vamos voltar, porque na hora que o sagre esfriar, você vai sentir uma puta dor.
O Nando, respondeu com voz de dor: Ah!!! Pra quem tá cagado, o que é um peido.
Continuamos a descer, mais devagar, chegando lá no sopé da serra, já em Cubatão a gente parou para tomar um pouco de agua e já íamos voltar. Ai o Nando falou: ___ Véio acho que não vai dar pra subir não, meu joelho tá doendo pra cacete.
Não da para sair por Cubatão? Eu falei, até dá mas só tem pedras, pelo rio, vamos tentar sair, pelo rio subindo e a gente corta pelo mato ate a linha de trem que sobe a serra, e pede uma carona pro maquinista.
Começamos a subir, mas eu estava acostumado a subir com mochila, com bicicleta é bem diferente, íamos devagar por causa da altura das pedras e do joelho do Nando.
Para acabar de “fuder” eu enfiei a mão numa aranha armadeira, e começou a escurecer, andamos mais um pouco, e achamos uma pedra mais ou menos plana mas com uma inclinação. Colocamos as bicicletas na lateral, com mô medo de chover e agua do topo da serra descer e levar a gente e as bicicletas.
Milhares de borrachudos, também conhecido com mosquito pólvora. (Mosquitinhos comuns na mata atlântica), adoraram o banquete.
Com fome, frio, atacados por borrachudos, ficamos tentando dormir na pedra. Mas a pedra era inclinada e quem estava em cima ia escorregando e espremia o segundo e o segundo espremia o terceiro que ficava com a cara em uma elevação da própria pedra.
No desespero, pegamos uns pedaços de galhos, para tentar fazer uma fogueira, mas a umidade não colaborou, nem um pouco. Num desespero ainda maior, pegamos o que tínhamos, e começamos a botar fogo, primeiro uma câmera de ar reserva, depois outra câmera e por fim dois óculos, só para a fumaça dar uma espantada nos mosquitos.
No meio da noite tive uma febre do cacete por causa da mordida da aranha armadeira. Por causa do frio e da febre minha cabeça batia na pedra que eu estava deitado, e uma semana depois eu punha a mão na nuca e ainda sentia dor.
O Rodrigo, no meio da noite com um puta frio, falou: ____Pô! Já fui escoteiro, e lá eles ensinavam a beber urina, quando tá fudido como agora. Eu e o Nando respondemos:___ Vai fundo!! Estávamos, meio que duvidando, que ele ia beber, de repente ele pega uma caramonhola, mija dentro e toma. Esse foi o único momento de risadas da noite.
Começou a amanhecer, e começamos a subir novamente, o Rodrigo, ficou desesperado e começou a falar, para deixarmos as bicicletas, e depois buscávamos. Eu tava só o pó, não tinha a menor vontade de subir e depois descer para buscar a bicicleta no outro dia. Mas ele encheu tanto que eu e o Nando concordamos.
O desespero era tanto, que nem escolhemos muito a subida, subimos numa parte do morro com inclinação de uns 45º graus, e subimos pra cacete chegando na casinha em frente o 4º Patamar , mas na linha nova.
Começamos a subir a linha nova, e como a sorte estava ao nosso lado, no meio da ponte da Grota Funda, o trem passou, só conseguíamos ficar agarrados na estrutura da ponte que balançava pra “Caralho”. ( Desculpe a expressão, mas é a única que vem a cabeça). E perdemos nossa carona, sem previsão para outro trem passar subindo, lá.
Chegamos meio mortos, meio vivos. E quem estava na vila de Paranapiacaba, ficava tentando entender, porque alguém sem bicicleta usava roupas de ciclista e capacetes, “sem bicicletas”.
Ligamos para nossas casas e todos, ficamos sabendo que já tinha nos procurados em todos lugares possíveis. Inclusive buscaram o Júlio, no meio da noite para ajudar. E ele para animar mais disse: __O Lú tá junto? Responderam afirmativamente ___ Sim! E ele completou: __ Ih! Se o Lú tá junto, eles devem estar todos mortos, por que ele conhece tudo por aqui.
E a mãe do Nando, quase teve um infarto nesse momento.
Buscaram-nos de carro, e logo foram falando amistosamente frases como: Porra! Seus filhos da puta, onde vocês estavam? A gente rodou a noite toda, foi na delegacia e mandaram procurar no IML. Caralho, vocês não tem juízo, e mais um monte de elogios do tipo e que infelizmente eles tinham razão.
O Nando, não foi trabalhar, e quando voltou, todo mundo ficava enchendo o saco dizendo: Pô, você se perdeu! A resposta era sempre a mesma, como eu vou me perder em um lugar que eu conheço?
Nasceu dai o “não vai se perder”, que eu ficava falando e zuando.
Na escola, dias depois, o Nando contou 94 mordidas de borrachudo, só no antebraço. Ai vocês mensurem o tamanho do desespero.
No outro dia ainda muito cansados, Fomos Eu, o Júlio, o Nando, o pai do Nando (Sr. Adalberto),e o tio do Nando (que não lembro o nome) descer a Grota Funda para buscar as bicicletas.
O Adalberto conseguiu a autorização, para descermos pela linha nova, pois era funcionário aposentado da rede ferroviária. Chegamos à ponte de concreto da Grota Funda.
O pai do Nando começou a falar, mas estava tão abismado com a cagada que nós fizemos se confundiu e colocando a mão no ombro do Júlio começou a falar: ____ Nandinho, meu filho!! Promete pro seu pai que, você nunca mais vai descer, nesse buracão.
O Júlio olhou pro Nando com uma cara engraçada, eu e o Nando começamos a rir pra cacete. Ai o Adalberto, olhou pro Júlio e falou: ___Pô, você não é o Nando!! E deu um empurrão que quase jogou o Júlio da beirada da ponte. Ai todo mundo chorou de dar risada.
O tio do Nando começou a fazer uma cadeira de bombeiro com uma corda. Um depois do outro começamos a descer e numa manobra que eu só fui entender muito depois ele desceu por ultimo e soltou a corda estando na parte de baixo.
A cadeira de corda, quase castrou todo mundo, mas chegamos vivos e com as bolas só raladas, descemos uns 25 metros de altura ate o fundo da grota.
Andamos e chegamos ate as bicicletas, o Júlio trouxe a do Rodrigo, eu a minha e o Nando a dele.
Começamos a subir o mesmo morro do dia anterior, e perto do topo eu escorreguei e agarrei nas primeiras plantas que apareceram, por “sorte” 2 pés de Tucum (Palmeira típica da mata atlântica que tem espinho de ate 15cm no tronco).Fiquei 1 dia inteiro tirando espinhos e minha mão ficaram como duas batatas com dedos.
Subimos ate Paranapiacaba e de lá para casa, bem ferrados, mas com muitas estórias para contar.

Agradecimentos: A todos os que nos procuraram, e principalmente ao Júlio. Que disponibilizou seu tempo, e ainda ajudou a trazer a bicicleta do Rodrigo.

Nota: Essa foi a única fez que deixei a Gary, sozinha.

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