Morro do 2 x 2


Morro do dois por dois.
Depois de pedalar de Ribeirão Pires à Paranapiacaba de capengarmos ate o 4º patamar enroscado com bicicletas e de inúmeras atividades no patamar era hora de capengarmos morro acima. Depois de uma grande descida sempre tem uma grande subida, como diria o mestre Kim. Mas como sempre existe a exceção em vez de uma subida existem duas a da serra e do morro do 2 por 2 esse nome foi dado pela gente , porque depois de chegarmos cansados perto do 5º patamar tínhamos que cortar pelo mato para os policias ferroviários federais e os vigilantes não nos pegassem e fizessem seu serviço. (Dar um chá de cadeira por horas , sermões e ameaças de prender as bicicletas),no 2x2 nós brincávamos que a cada 2 passos pra subir você acabava dando outros 2 no sentido inverso, pois o terrenos era liso por causa do sapé, esburacado e bem inclinado. Uma vez meu primo que estava quase no topo teve que voltar uns 120 metros de novo, por que a gravidade x a aceleração da queda, mais a falta de atrito do sapé molhado, mas a somatória do peso dele e de sua caloi 10 se tornaram um grande capote seguido de rolamento com obstáculos, no caso a bicicleta.
Ai você me pergunta, Caloi 10? . Sim a antiga e pesada Caloi 10, com pedal come-canela Cambio Suntour e tudo mais que tem direito, aliás a coitada também caiu em uma boca de lobo em forma de grelha no mesmo dia na calçadinha de manutenção da rede. Ficando ele perdurado em uma ribanceira. Após muitos risos a gente o resgatou.
O Kim
O Henrique é uma pessoa atípica, pois esta a frente de nosso tempo, nos ensinando a preservar a historia e natureza em um tempo que isso nem era falado, dono de uma paciência e calma , que às vezes ate irrita, parecia um mestre zen no jeito de agir e falar, a não ser na vez que ele caiu de bobeira na trilha do sabão e virou uma fera agredindo a mountain bike que ele havia comprado recentemente chegando ao ponto de entortar o quadro. Que posteriormente ele desentortou pacientemente com um macaquinho hidráulico e gabaritos feitos por ele.
Ele chegou a correr em ciclismo de estrada nos anos 80,mas infelizmente uma hepatite o impediu de continuar a correr, com ele aprendemos inúmeras coisas sobre ciclismo, ninguém sabia como ele que era mais velho pedalava com tanta facilidade enquanto os novos estavam com os pulmões e músculos queimando e as línguas de fora, fora as técnicas que ele conhecia muito bem, descobrimos que o segredo também era que enquanto andávamos com bicicletas como Caloi 10, e mountain bikes ou bicicletas de uso misto como Caloi Cruiser sem marchas, ou com marchas adaptadas, ele ia de Automoto.

Automoto
Ate o dia que o meu primo Eduardo pedalou pela primeira vez a  Automoto, todos pensávamos que a facilidade do Kim em pedalar era devido a pratica, o treino e as técnicas dele. Porém muito se deve a maravilhosa geometria e baixa peso, para a época da automoto, bicicleta francesa, cujo sua fabrica foi adquirida pela divisão de bicicletas da Peugeot.
Ela era leve, fina rápida e elegante, ainda por cima andava muito mais que nossas ancoras com 2 rodas.

Jipão
Como começamos a andar em um grupo de entre 4 a 10 pessoas, muitas pessoas começaram a participar de nosso grupo, mesmo sem ter uma bicicleta ou qualquer afinidade com o ciclismo, mas como eram curiosos e sempre queiram saber mais e mais sobre peças e equipamentos , por exemplo blocagens (que é muito usada em competições para uma troca rápida de roda ou ajuste de altura de selim) e sempre ficavam perguntando sobre temas como: qual a melhor bicicleta, qual é a mais leve, a mais a rápida e por ai vai, em outros casos como o caso do nosso amigo Júlio que também foi o descobridor de uma nova utilização de blocagem como spander, mais adiante eu falo sobre essa gambiarra técnica, ele queria pedalar com a gente, porém ainda não tinha bicicleta. A solução foi o improviso, pegamos uma bicicleta que estava na casa do meu tio Antonio e que ele usa para pequenos deslocamentos, demos um tapa e nos domingos ela mudava de parceiro de passeios. A bicicleta era uma....., bem eu nem sei o que era aquela bicicleta, porém  acho que era uma barra circular da Monark da década de 70 sem marchas e com aros de ferro dividindo ferrugem com as partes cromadas, ela estava pintada com a cor preta e com pneus com cravas e já um pouco gastos pelo uso, já o peso dela era realmente uma coisa digna de fisiculturistas. Como ela era muito estranha o nome dado a ela foi o melhor possível, Jipão, pois era pesada e lenta, mas não parava nunca, ou quase nunca.
Mesmo com esse estilo peculiar ela dava conta dos passeios a não ser uma vez que fomos em direção à Paranapiacaba e pegamos uma estrada de terra que saia na estrada velha de Santos, o conhecido por nós como portão amarelo da Solvay (empresa que fabrica Cloro e outros produtos derivados do cloro) ou também chamada de trilha do gasoduto, de lá fomos  pedalando e muitas vezes empurrando em algumas subidas, pois as bicicletas eram bem mais pesadas que hoje em dia e as marchas costumavam escapar ou as vezes teimavam em engatarem e quando faziam era de uma vez só; e se estivesse pedalando em pé com certeza iriamos para o chão, chegando na estrada velha seguimos ate a antiga pousada dos imigrantes construída com pedras que era onde se hospedavam uma parte dos estrangeiros que aportavam em Santos e subiam a Serra para começarem uma nova vida.
Já na pousada o Ricardo teve a maravilhosa ideia de nadarmos na cachoeira que fica no vale em frente a pousada, e se não me engano o Eduardo teve a não tão maravilhosa ideia de levarmos as bicicletas junto conosco, como já diz o ditado pra baixo todo santo ajuda, fomos descendo com as bicicletas nos ombros pois a pirambeira até a cachoeira eram bem íngreme, escorregadia, cheia de arvores   e com muitas pessoas descendo a pé para nadar e outras subindo para a pousada novamente. Até ai tudo legal e tranquilo, nadamos, cozinhamos macarrão( que é a comida ideal para quem não sabe cozinhar e dá para fazer em quase todos os lugares), costumávamos comer macarrão com sardinha ou atum. Hoje em dia não consigo comer nem atum nem sardinha em lata, nem é por nojo nem nada, mas sim pela saturação.
A comida era feita no nosso maravilhoso fogão portátil (uma espiriteira feita em cima de um pedaço de madeira, com uma lata de sardinha pregada sobre esse e depois tapada com durepoxi, ainda tinha a grade feita de resto de grade de fogão cortada furada e depois presa na lateral da tabua). O combustível era o álcool que nessa época era ainda de 96%, vendido em qualquer mercadinho que achássemos , na falta usávamos álcool de posto de combustíveis e na extrema necessidade usávamos gasolina que deixava um cheiro ruim e dava o dobro de trabalho para remover o negrume que se formava em baixo das panelas. As panelas eram comuns que estivessem sem uso cotidiano em nossas casas  e preferíamos as com paredes finas, pois assim podíamos amassar e desamassar para ocupar menos espaço em nossas mochilas e ainda eram usadas como pratos na hora de comer. Eram as panelas dobráveis ou mais ou menos isso.
Após o almoço , vi uma cena estranha e engraçada o meu primo Eduardo e o Ricardo brigando para cozinhar algo e que não estava dando certo, cheguei perto e vi a inútil tentativa de fazer pipoca em uma espiriteira quase apagada e com um contra vento a uns 50 quilômetros por hora.
Após essa cena inusitada, Deus deve ter ficado irritado com tanta estupidez, e decidiu que isso não ficaria assim! Acho que deve ter pensado assim: Como esses moleques vem de tão longe com uma bicicleta de quase uns 30 quilos descem com ela um vale gigante e ainda tentam fazer pipoca no contra vento, eles ainda terão que escalar aquele morro com essa ancora com 2 rodas nas costas e voltar para casa ai eu pego eles.
E assim se iniciou o saga do Jipão, começamos escalar o morro com as bicicletas e muitas vezes voltávamos para ajudar o Júlio com o Jipão, subíamos mais uns 20 ou 30 metros e voltávamos para ajuda-lo novamente , assim após a varias horas conseguimos chegar na estrada, mas o Deus ainda não estava satisfeito e quando estávamos prontos para pedalar novamente, notamos que o pneu do Jipão estava furado, arrumamos, e partimos andamos uns 900 metros e de novo o pneu estava vazio, mas uma pedaladinha e pneu furado de novo dessa vez na porta da antiga radio Eldorado AM. Parando e consertando fomos indo ate chegarmos a entrada da estrada de terra, lá o Eduardo que tinha algum compromisso teve que ir sozinho para chegar a tempo, para ele não ir sozinho, o Juninho foi embora com ele e eu o Ricardo e o Júlio ficamos com a encrenca. A cada 800metros a 1 quilometro o pneu teimava em furar e a gente sem câmara reserva teimava em consertar, ate que de tanto cansaço e esforço físico e mental (o chamado saco cheio), não prestamos atenção e acabamos seguindo reto no único desvio do trajeto, resultando que a estrada acabou e paramos em um brejo com agua salobra e muito fedida. Como já havíamos feito inúmeras besteiras em um dia só, fizemos mais uma que se deve a mim a culpa de resolver atravessar o brejo, onde eu imaginava que poderíamos voltar a estrada correta sem ter que retornar e como mais empurrávamos o Jipão que pedalávamos e nesse momento já não existia mais câmara e o pneu estava andando com câmara de sapé (onde era para estar a câmara enchemos de sapé, para podermos rodar).
Andamos ainda uns 800 metros pelo brejo , vimos que não era possível andar por lá e voltamos para estrada para retornarmos para ate o desvio correto, cheio de lama mais cansados suados e muitíssimo fedidos.
Ate agora já tínhamos resolvido dois problemas o do desvio errado e o problema com a câmara furada. Pois sem câmara não tinha o que furar, mas tinha o que amassar, no caso o sapé, e de novo a cada 2 quilômetros tínhamos que desmontar o pneu encher de sapé, montar o pneu no aro , andar mais uns 2 quilometro e ai repetir o processo novamente, após infindáveis horas chegamos no portão amarelo, cansados com um aro amassado e com o saco cheio do Jipão. Você acha que acabou? Não ainda faltava chegar em Ribeirão Pires uns 11 quilômetros de onde estávamos. Fizemos isso, só que demoramos bastante, O Eduardo já tinha ido no compromisso dele, voltado e ai nos chegamos. Depois desse dia o Júlio e ate meu tio Antônio aposentaram o Jipão, por falta de condições de rodar.
A partir desse dia o Júlio, comprou outra bicicleta e ai começou a saga do Júlio o destruidor de peças, serviços e acessórios ou qualquer coisa relativa a bicicleta.

Um comentário:

  1. kkkkk... toda vez que uso uma espiriteira, até hoje, lembro da pipoca que não estourava... rsss.

    Também é inevitável lembrar do pneu com capim dentro... huahauhauhauh

    Realmente naquele dia me salvei da pior parte. Nem lembro qual era o meu compromisso (alguma gatinha, talvez [urgh]), mas me livrou do brejão fedido...

    Complementando o final: o Júlio realmente quebrava qualquer coisa, por mais forte que fosse. O cara era muito bom nisso. Deveríamos ter testado ele x um tanque de guerra... kkk... tadinho dos 'Panzers'. Eu me satisfazia em inspecionar a bike dele, pois sempre achava uma trinca...

    É isso, galerinha bacana que nós éramos. Meio loucos, mas isso fazia e ainda faz parte!!

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