Terceira Descida para Bertioga



Na terceira descida à Bertioga, depois de 2 vezes termos, nos lascado. Decidimos, descer eu pela 2º vez e o Eduardo (Piu) e o Júlio pela 3º vez.


Mesmo com um bom preparo físico, nas ultimas duas vezes tivemos problemas mecânicos e problemas com a chuva, decidimos nos preparar melhor.

Então compramos lanternas de guidão modernas (ao invés de dínamos da década de 70) e pisca para a parte traseira das bicicletas.

Desta vez também usávamos “Roupinhas de Marinheiro”(bermuda e camiseta de ciclismo) como diz o Nando.

Mais o mais importante foi o nosso treino que foi: “Nenhum”. Eu e Júlio, fomos 1 vez ate Paranapiacaba para ver como os pneus slicks iam ficar, e só.

Como de costume, fomos a noite, por causa do menor fluxo de veículos no trânsito, saímos de Ribeirão umas 19:00 aproximadamente, fomos pela “serrinha da Santa Luzia” e logo após pegamos a Rodovia Índio Tibiriçá.

Paramos para pedir um pouco de agua na Spal - Coca Cola em Mogi das Cruzes atravessamos o centro de Mogi e começamos a pegar a Mogi – Bertioga, o tempo estava bom e o clima agradável.

Iniciamos a descida da Serra e um pouco antes do meio da serra, demos  uma parada pois só descer estava exigindo muito das mãos que freiavam e das pernas por ficar algum tempo com os pés paralelos.

Chegando ao ponto das mãos começarem a ter câimbras de tanto frenar.

Depois do descanso, voltamos a pedalar e eu sem juízo nenhum decidi “deitar o cabelo”, o céu estava limpo e uma lua cheia linda iluminava a pista, com um coroa 48 dentes e pinhão de 11 dentes e pedalando como um louco, o ciclocomputador começou a marcar 60 km, 65 km, 70km, 75km, 80km, 88km, 90km, 92km, 96km, 98km.

Como eu tinha os deixado saírem e fiquei esperando um tempão. Logo vi o Júlio e o Eduardo a frente e gritei quando passava pelo “Piu”. ____ To a 98 km por hora, todo feliz. 

Ele grito algo que só depois fui saber o que era. Ele gritou olha a curva da ponte. 

Eu respondi: ____ Hein!!!! Olhando um segundo para trás, na hora que voltei a cabeça para frente, um único pensamento veio a minha cabeça. 

E era em letras garrafais. Ai Caralho !!! FODEU!!!!!.

Na velocidade que eu estava nem com uma ancora ou um paraquedas iria conseguir parar, então decidi usar toda a pista.

Ate ai beleza, se não fosse um caminhão que subia na pista contraria.

Fui reduzindo a velocidade, mas mesmo assim ainda estava muito rápido e a curva me jogava a cada vez mais para a pista da subida.

 Acabando o viaduto, eu já estava de frente para o caminhão que subia, e estava a mais de  50 km ainda na pista contraria e passei entre o pedaço de acostamento de uns 50 cm de largura com o caminhão a minha direita e uma valeta funda e um morro de pedra a minha esquerda, após passar o caminhão cruzei reto e voltei de uma vez para a pista certa com um carro buzinando por eu passar na frente dele.

Consegui parar a uns 150 metros a frente, pálido e com uma baita “cara de bunda “por causa da cagada que eu fiz. 

O Piu parou do meu lado e deu uma puta bronca , o Júlio parou e ria sem parar, ate o Piu dar uma bronca no Júlio também.


Depois do susto e da bronca, desci bem calminho, e começamos a ralar os tacos da sapatilha na pista para soltar faísca, ate encontrarmos uma lata de refrigerante de alumínio, que só fazia barulho ao ser ralada no chão.


Chegamos ao centro de Bertioga umas 23:00, rodamos um pouco e fomos arrumar um lugar para pousar.

O bar que a gente ficava estava com uma grade ai a gente viu uma casinha de madeira na beira da praia, e foi para lá.

Comemos algumas coisas que tínhamos levado, e começamos a dormir.

Na hora que  começamos a dormir começou a garoar e o vento do mar jogar a chuva em nossa direção.

O clima agradável foi, embora e a chuva não nos deixava dormir direito, ficamos ate umas 08:00, ate aparecer uma moça que trabalhava na barraca, que era da CETESB.

 E distribuía panfletos de conservação ambiental, e na conversa ela nos explicou que a serra de Bertioga tem o nível pluviométrico muito elevado, por isso quase sempre chove.


Nos despedimos da moça e resolvemos, pedalar pela areia ate Boraceia, resultado fizemos um grande esforço ao pedalar na areia, depois voltamos pela pista ate o centro de Bertioga e paramos para almoçar.

 Comemos em um restaurante, que tinha uma coisa interessante, poderíamos comer o quanto quiséssemos, mas se sobrasse comida no prato, o valor na hora de pagar dobraria. 

Para desgosto do dono em vez de pagar o dobro nos comemos o dobro (Eu), o triplo (o Piu), ou o quadruplo ( o Júlio).

Depois de almoçar e descansar, começamos a pedalar em direção ao trevo do inicio da serra. 

Começamos a volta onde tem uma grande reta que devagar começa a inclinar, sem maiores problemas, fomos pedalando e subindo uns 15 minutos depois da efetiva subida, o meu joelho que era zuado pelo atropelamento começou a doer por causa da força.

Continuei a pedalar e perto do mirante que tem a bica de agua, cada pedalada parecia que entrava uma faca no meu joelho, paramos na bica, bebemos agua, conversamos com os turistas que estavam lá e ficaram admirados por que estávamos subindo.

 E continuamos o nosso caminho.

A serra da Mogi – Bertioga, tem uma particularidade, quando você chega no topo, fica todo feliz achando que chegou em um planalto. 

Ai começam os morros com grandes descidas e subidas, se você não guarda folego ou não está preparado psicologicamente para isso, essa viagem fica uns 20% pior só por causa do final da serra.

No final da serra a chuva começou fraca e veio aliviar o calor da subida, acabamos de subir passamos pelo centro de Mogi das Cruzes, depois pelo centro de Suzano.

Em Suzano a chuva apertou, e nos estávamos em um ritmo muito bom.

Ao chegarmos a Rodovia Índio Tibiriçá, como disse o Júlio esses dias, “parece que puxaram a tomada”, e o ritmo começou a cair muito a ponto de ficar sofrível.

Na frente do cemitério onde a rodovia Índio Tibiriçá (nova), se cruza com a Índio Tibiriçá (velha), a situação piorou drasticamente, pois a minha hipoglicemia, resolveu aparecer


A minha visão começou a ficar toda preta com os apagões e eu comecei a entrar e sair do acostamento para pista e da pista para o acostamento, paramos e decidimos ir ate a vila de Palmeiras em Suzano, pois poderíamos nos abrigar lá.

Fui apagando e acordando uns 5 km ate chegar em Palmeiras, ate hoje sem saber como não cai, mas com certeza foi  Deus quem guiava minha bicicleta.


Chegando a um bar que tinha uma cobertura e ficava do lado da passarela (que não existe mais) a ultima coisa que eu lembro e de jogar o capacete no chão e mirar minha cabeça nele para não bater no chão.

 Deu certo graças a Deus novamente.

Esses dias o Júlio, falou que ele e o Piu tentaram me acordar várias vezes, pois estavam preocupados e  além da hipoglicemia, eu comecei a ter hipotermia, com direito a pontas de dedos e lábios roxeando, mas as únicas coisas que eu lembro e do Piu no orelhão que ficava no bar,  e minha mãe e a Juli resgatando a gente em baixo de um mega pé dàgua com um Monza verde dela.


Chegamos em casa, e minha mãe fez um chá, e a pequena quantidade de açúcar do chá, me deu como se fosse o espinafre do Popeye, uma nova energia.

Foi muito que surreal, e me deixou bravo por bastante tempo.

Pois se na hora do almoço tivéssemos comido algo doce, acredito eu que ate em pequena quantidade, teria conseguido chegar em casa tranquilamente.

Depois nos reunindo e em conversa chegamos a algumas conclusões, se não tivéssemos andado, tantos quilômetros pela areia fofa da praia ate a PQP, sem ter planejado e sem objetivo algum, estaríamos mais descansados e chegaríamos antes da chuva da Rodovia Tibiriçá, se tivéssemos comido doces no almoço, a hipoglicemia não teria aparecido, ou poderia aparecer bem mais perto de casa.


E se não chovesse na Tibiriçá, mesmo com a volta na areia da praia, e com a hipoglicemia que na teoria não iria aparecer.

Teríamos, cumprido o planejado, mal planejado.

Mas como diz o meu tio Antônio a respeito do “se não Fosse”: ____ Se não fosse por uns 20 e tantos cm eu teria nascido mulher.


O Ciclismo, ensina humildade, paciência e fraternidade, podemos culpar inúmeros motivos para nossos fracassos, mas a grande verdade é que os fracassos são causados por nós mesmo.

 Sendo por falta de planejamento, falta de informação, de objetivo, de humildade ou de sapiência.

Nota : Agradecimentos a Dona Helena e a Juliane, pelo “nosso”, mas meu do que do Júlio e do Piu "resgate".

 Sendo que se não fossem elas duvido muito que estaria aqui.

Pois na hora que eu estava no bar, lembro-me de tudo ficando quente, mesmo com hipotermia, e eu em posição fetal.

Ah!!! tinha um luz branca também.

Eu brinco muito, mas isso não é zueira minha.

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